Não calhou em conversa agora, mas às vezes calha... As redes sociais e a chamada vida real

Quando criei este blog, tal como quando criei a minha página de Facebook, foi com a intenção de expressar neles as minhas ideias, as minhas opiniões, as linhas de pensamento por que se gere a minha forma de estar na vida. Porém,  noto frequentemente, com alguma pena minha, que este blog fica meses sem ser actualizado e que o que publico na página de facebook pouco tem daquilo que eu gostava que tivesse. Em contrapartida, reparo que escrevo testamentos em resposta a posts de outras pessoas, quer em blogs, quer no Facebook ou em foruns. Isso às vezes deixa-me com alguma pena, pois coisas que me orgulho de ter escrito ficam por aí espalhadas em vez de ficarem nos "MEUS arquivos" ... Mas acho que isso é facilmente explicado pela velha expressão e ideia que ouvia à minha mãe quando era criança: "calhou em conversa"... Se calhar é mais fácil , ou pelo menos mais habitual darmos a nossa opinião sobre um assunto que já está na mesa do que, assim do nada, chegar e pôr um assunto na mesa.

Normalmente, o assunto em que noto que mais distancio da maioria das pessoas com quem converso, na net e fora dela, é a questão em volta do grande terror que essa maioria acha serem as redes sociais. Reparo que a maioria das pessoas vê as redes sociais como um bicho papão, acha que o Facebook é o grande mal da sociedade , e que as pessoas nas redes sociais são uns monstros, quando na chamada vida real são totalmente diferentes... Ou então, fazem-se muito boazinhas nas redes sociais e , na verdade são uns monstros, etc.  e tal... As opiniões das pessoas são um bocado contraditórias e confusas neste aspecto... Eu não chego bem a perceber se acham que as pessoas se fazem muito boas nas redes sociais e na realidade são uns monstros, ou se acham que as pessoas são, por natureza  boas e são as malditas redes sociais que as tornam más...

Eu quanto a mim, tenho a mesma opinião há muitos anos e não me a conseguiram mudar ainda . Eu acho que as pessoas são as mesmas dentro ou fora das redes sociais e se se mostram mais verdadeiras em alguma das duas situações , isso acontece dentro das redes sociais e não fora. Sim, leram bem. Acho que as pessoas são mais verdadeiras na sua grande maioria dentro das redes sociais do que fora delas, precisamente porque, ao se esconderem , mostram-se!

Uma vez, numa acção de formação, deixei o formador chocado com está minha ideia . Disse-me logo, muito seguro "Então você acha que aquelas pessoas que se insultam e se ofendem da pior maneira no Facebook, só porque um é de esquerda e outro de direita, fazem isso na vida real?? Então estávamos bem, sim!"  ... Só que eu consegui que perdesse a segurança com a seguinte resposta "Então e você acha que pessoas que vão para o Facebook insultar-se por questões políticas ou outras, na verdade, naquilo a que chamamos vida real, são pessoas muito sensatas? Com muito boa índole? Como é que isso e possível? Olhe eu se visse naquilo a que chama vida real uma pessoa que reconhecesse do Facebook por andar a insultar pessoas, acho que tinha cuidado com ela! Por muito amável que se mostrasse comigo!"

Porque o que me parece é que as pessoas que vão para as redes sociais insultar quem tem uma cor política (apenas um exemplo) diferente da sua, só não o fazem cara a cara porque não têm coragem , porque são cobardes, ou porque teriam a perder com esses insultos. Imagine-se um empregado que , como o patrão tem uma orientação política diferente da sua, o começa a insultar em plena empresa, a chamar-lhe ignorante, burro e por aí fora... Pois... Era capaz de não ser grande ideia . Então e se o encontrar numa rede social e resolver criar um perfil sem fotografia e um nome falso? Pois. Parece-me, precisamente que tudo isto vai na linha da velha ideia que diz que "a ocasião faz o ladrão". Não terá ele vontade de o insultar cara a cara? Claro que tem, a vontade é a mesma! Só não o faz porque não pode!

Há pouco tempo, uma amiga da adolescência alertou-me para uma publicação do Facebook, onde alguém dizia coisas do piorio .  Do pior que se possa imaginar ( o tema era os refugiados). E então, essa amiga disse-me " Sabes quem é aquela pessoa? É Ana Silva! Dá para acreditar? Lembras-te dela?"

Obviamente que não usei o verdadeiro nome da pessoa, mas está amiga identificava a pessoa como sendo uma antiga nossa colega da escola. E eu naquele momento só pensei uma coisa: a única coisa que não dava para acreditar era a indignação desta minha amiga ao ver a tal, a que aqui chamo Ana Silva, insultar pessoas nas redes sociais por defenderem os refugiados. De resto, a pessoa em questão estava igual a si própria. Pelos vistos ,não mudou! Sempre foi conflituosa e ressabiada. Onde estava o espanto?

A grande diferença entre o que se passa hoje nas redes sociais e o que se passava há 30 anos atrás no café, na mercearia ou na retrosaria da vila é que nessa altura, só quem ouvia era a meia-duzia ou uma dúzia de pessoas que se encontrava nesses espaços físicos, enquanto que hoje em dia, os insultos proferidos chegam imediatamente a um número infinitamente maior de pessoas, o que dá ideia de que tudo tem uma dimensão muito maior. Mas a massa da raça humana sempre foi a mesma. Sempre houve pessoas boas e más e continua a haver.

Recordo-me das minhas vizinhas na mercearia e na retrosaria da zona, quando eu era miúda. Aquilo era um não mais acabar de lavagem de roupa suja ( ou enxovalhamento de roupa lavada? ) , cortes na casaca e o diabo a quatro! Aquelas mulheres só não faziam o que se faz hoje no Facebook porque não havia Facebook na altura! Nem Facebook, nem Twitter, nem blogs, nem nada. Lá de vez em quando lá havia uma carta anónima, normalmente escrita à máquina que vinha trazer assunto para mais ou menos dias, dependendo do tempo que o próximo assunto quente demorasse a chegar... Mas era o máximo que havia: cartas anónimas ,que tinham que ser enviadas com muito cuidado para ninguém desconfiar...

O que acontece também é que as pessoas tendem em ter a memória um pouco curta e também em insistir sempre na ideia de que antigamente é que era bom... Mas se calhar não é bem assim. A raça humana foi sempre a raça humana e nunca foi diferente... E as redes sociais são criadas e alimentadas por pessoas. Tão simples quanto isso.

Comentários

  1. Olá São,

    Vou dividir este seu post por pontos:

    Ponto 1.
    Nisto que escreveu: "pois coisas que me orgulho de ter escrito ficam por aí espalhadas em vez de ficarem nos "MEUS arquivos".
    Não me parece que isto seja totalmente verdade, ao comentar noutro local estamos a deixar um pouco de nós, a nossa marca, desde que o que se diga seja construtivo, acrescente, é bem capaz de trazer mais pessoas até ao seu espaço. Isto se gostarem do que é dito. O problema é que um blog que não é actualizado vai morrendo lentamente. É como se a São tivesse um negócio e só aparecesse de quando em vez, o negócio afunda-se. Acho que é por aí.

    Ponto 2:
    Quanto a esta sua parte: "Acho que as pessoas são mais verdadeiras na sua grande maioria dentro das redes sociais do que fora delas", já conhece a minha opinião, eu sou da opinião que por detrás de um monitor muita gente se revela em mau, fazem sair frustrações, ódios, formas de estar que assustam, desequilíbrios que nos deixam a pensar que do outro lado só pode estar alguém perigoso, ou alguém que não gostaria de ter por amigo. Fora das redes sociais, só e porque se dá a cara, a malta tem mais cuidado, não vá aquilo correr-lhe mal. É a tal cobardia que não entendo.

    Lembro-me de ter criado o blog, para ai um mês depois, sem que me tivesse dado a conhecer sequer na blogosfera (acho que tinha comentado num único blog) começaram a aparecer comentários em formato anónimo que me deixaram boquiaberta, aquilo era ódio puro intervalado com p"t@ e mimos do género. Os meus posts eram do mais inocente que existe, ainda andava a apalpar terreno nisto dos blogs. Portanto, São, a minha convicção é que na net as pessoas se revelam em mau. Não serão todas, felizmente, mas mesmo assim são demasiadas.

    Para quem não está habituada a frequentar cafés, mercearias sim, mas é só para entrar, comprar fruta e legumes e sair logo de seguida, não sei que conversas se fazem numa mercearia. Mas pelo que conta deve ser conversa de gente que tem pouco que fazer. Uma pessoa sai de casa à oito da manhã para trabalhar, por vezes só sai à oito da noite, não raras as vezes faz directas, não lhe resta muito tempo para este tipo de coisas, ou mesmo que restasse terá a ver com a postura das pessoas, quem é de mexericos, será sempre de mexericos, quem não o é, afasta-se. A minha vida desde que a minha mãe morreu divide-se entre cidade e campo, e continuo a ter a mesma forma de estar quer na cidade, quer no campo, falo com toda a gente mas, só deixo entrar uma ou duas. É muito fácil, não custa nada e poupa-me muita chatice.

    Não consigo falar de coisas muito intimas com estranhos (falo de coisas que podem ser faladas sem entrar em grandes pormenores) mesmo assim com aqueles que não são estranhos vou com cuidado. Feitios... A São lembra-se com certeza daquele seu comentário no meu blog em que achei por bem não o publicar sem que pensasse duas vezes. Achei que existiam demasiados pormenores da sua vida pessoal, sendo o blog público aquilo pode correr mal, sabendo eu que o meu blog é lido também por um grupo de pessoas que anda na blogosfera apenas a infernizar outros. Ou seja, é um blog que é lido por gente bem formada e por gente que não interessa nem ao Menino Jesus. Como acontece a muitos blogs. Muita desta gente persegue os que comentam até aos seus blogs. Ah, pois, gente desequilibrada, só pode. Lá está, a net desenterrou pessoas que não cheiram lá muito bem.

    Tenha um resto de bom dia, São :)

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    1. Olá, Maria :). Desculpe, só ontem percebi que tinha comentado.

      Sim, claro, comentários que fazemos "por aí" são importantes, senão ninguém os fazia, mas o que quero dizer é que há coisas com que gosto de ficar, até para ler mais tarde... Gosto de recordar coisas que escrevi :)

      Concordo com o que a Maria diz. Não sei é onde é que isso vai contra o que eu digo :D... Revelam-se em mau porque são más! Revelam frustrações porque as têm. E a Maria diz muito bem: são pessoas que não gostaria de ter como amigos. Ora aí está! Ora, se no dia a dia não mostram esse lado mau porque o estão a esconder estão a ser falsas. Provavelmente, se acontecer uma situação que as faça revelar, um copo a mais, uma situação de stress, acabam por se revelar... Há ainda aquelas pessoas que na net parecem mais simpáticas e no dia a dia nam tanto, mas muitas vezes não se trata de antipatia, mas de timidez, de acanhamento... Tive uma colega que estava sempre a contar anedotas e piadas (coisas inocentes, nada de grave, anedotas normais) mas pessoalmente era envergonhada... Ela dizia que gostava de ser assim brincalhona no dia a dia, mas tinha vergonha... É nesse sentido que digo que as pessoas são mais verdadeiras...

      Eu morava numa cidade relativamente pequena, Maria. Naquele bairro a maioria das mulheres era dona de casa... Iam fazer sala para a mercearia e para a retrosaria... Óbvio que eu também entrava para comprar alguma coisa e saía, mas durante esse tempo que lá estava percebia do que se falava... E depois, claro, ouvia também o que a minha mãe vinha contar para casa... De vez em quando havia os grandes escândalos, os grandes falatórios... Raios! Aquelas mulheres parecia que o facto da filha da A e da B e da C ter perdido os três vinténs as fazia perder o dinheiro todo... A minha mãe vinha contar aquilo para casa com uma euforia...

      Falar com estranhos ou com conhecidos também depende muito do assunto e de vários factores... Agora estou a lembrar-me daquelas pessoas que vão a programas de televisão, documentários, reportagens com máscaras, imagem desfocada, voz distorcida... No mundo não têm problemas com pessoas desconhecidas, têm é com quem as conhece... Há muitos factores implicados nessa questão, depende de cada situação :)

      Falar sobre a minha situação no último ano é mesmo o caso "calhar em conversa"... É uma questão que não exponho, iu melhor, não apregoo, mas também não faço grande questão de esconder... Porquê, meu Deus, se não cometi crime nenhum?? É um bocado no sentido :se calhar em conversa falo, embora não faça disso bandeira

      Uma boa semana para si, Maria :)

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  2. São,
    É caso para se dizer que as redes sociais sempre existiram. Funcionavam sem Internet até que se tornaram globais. Aliás, eu conheço muitos exemplos de pessoas que se preocupam mais em alimentar boatos e coscuvilhices do que em pensar no seu próprio bem. E isto é tão errado.

    Beijinhos

    PS. Estou a gostar imenso de ler o seu blogue! Está a ser uma óptima descoberta!

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    1. Muito obrigada, Carpe :)

      Há dias apareceu-me no Facebook uma imagem muito engraçada que se calhar um dia destes ainda publico aqui :D

      Aquilo ainda existe nas aldeias... É um conjunto de vários tanques... Ou melhor, o tanque é só um, grande, ao centro com varias pedras de lavar à volta... A minha tia chama o lavadouro. Deve ser o nome... Lá na aldeia onde estive no Norte, também há...

      E então, a legenda da imagem era "Redes sociais antigas completamente abandonadas"... Achei piada :)... Por acaso, até uso o tanque há quase dois meses, porque a minha máquina de lavar roupa já era usada quando veio para a minha mão e avariou logo... E então, eu escrevi assim como comentário "O meu terminal está activo, mas como não está ligado em rede, tenho que usar as redes sociais dos tempos modernos"... Claro, eu moro sozinha, o tanque é só um :D

      Obrigada pelo comentário. Um abraço :)

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