A obsessão pela política destrói as pessoas

Há pouco tempo, vi num blog que sigo, num comentário de resposta da própria dona do blog uma ideia muito ponderada e que mostra um bom senso precioso. A autora do blog disse isto :

"Posso não ter votado em Maria de Belém para Presidente da República, e não votei porque acho que não resultaria numa grande Presidente da República, no entanto estou longe de achar que a senhora é má pessoa"

Ora aí está uma forma de pensar, uma filosofia de vida, muito sensata.  Mas infelizmente, a observação dos comportamentos das pessoas em sociedade mostra-me que esse bom senso é raro no ser humano.  O que acontece é que as pessoas tendem em misturar de tal forma as coisas que, ao não se sentirem inclinadas para uma determinada ideologia política, defendida por determinado político, odeiam pura e simplesmente a pessoa. Não só a sua ideologia, mas a pessoa em si, enquanto pessoa, enquanto ser humano que é, antes de ser político.  Mas há mais : não se limitam a odiar esses políticos, mas passam a odiar também outros cidadãos comuns que simpatizam com a ideologia à qual eles têm aversão. Passam a odiar o vizinho do lado, porque acredita em ideais políticos diferentes, passam a sentir aversão pelo colega de trabalho , ou mesmo pelo amigo de longa data, porque acredita numa orientação política diferente daquela em que eles acreditam.

Às vezes, ao ver debates acesos na assembleia da república, debates em que a sensação que dá é que o ódio impera, vem à minha cabeça esta ideia: será que se agora acontecesse ali uma catástrofe, eles não se ajudavam a salvar uns aos outros? Oxalá que tal situação nunca se venha a verificar. Mas quero acreditar que, a acontecer, aqueles homens e aquelas mulheres que ali estão e que acreditam em ideais políticos diferentes, numa situação de catástrofe, deixariam automaticamente os ideais políticos de lado e os valores humanos falariam mais alto. Mal de mim quando deixar de acreditar nisso. Quero acreditar também que a grande maioria daqueles homens e daquelas mulheres que ali estão não estão ali apenas porque querem o poder, mas porque acreditam que a ideologia política que defendem é a ideal para levar o país no melhor caminho . Estarei possivelmente a ser ingénua. Mas então ,acho que mais ingénua seria se achasse que  todos os que defendem a ideologia política na qual acredito no momento são bem intencionados e, na mesma linha de pensamento, todos os outros são mal intencionados e só estão ali com o objectivo de chegar ao poder e "lixar o povo". Não. A haver mal intencionados será em todas as correntes políticas , tal como bem intencionados.

Mais triste ainda é ver pessoas que a nível profissional nada têm a ver com política, passarem a odiar , a desprezar, a tomar aversão a outras que também profissionalmente não têm nada a ver com política, mas simpatizam ou identificam-se mais com ideias políticas diferentes das delas. Pessoas que nem sequer são mal intencionadas. Simplesmente, acreditam em outros ideais. E assim, passam por cima de valores como o amor, a amizade, o respeito entre as pessoas.

Felizmente que nem todas as pessoas são assim. Há coisa de uns 10 anos atrás vi um debate aceso, mas bonito, entre dois políticos com ideias totalmente opostas. Bonito porque ambos mostravam acreditar plenamente , e sem más intencões, nas ideias que defendiam. Bonito porque ambos sabiam defendê-las com veemência e clareza. Mas bonito sobretudo porque eram dois políticos que não deixavam que as ideias políticas totalmente opostas que defendiam interferissem minimamente no forte amor que os unia. O debate terminou com um caloroso abraço muito bonito, ao fim do qual que os dois sorriram de forma sincera e emocionada um para o outro, mostrando que o laço que os unia era mais forte e mais importante do que qualquer ideologia política. Nunca mais vou ver aquele abraço.

Sinto um nó na garganta e um aperto no coração quando penso , pela  maior das certezas que a vida nos dá, que nunca mais vou ver aquele abraço, porque ele não voltará a acontecer. Não imagino, nem quero imaginar, a dor da Helena Sacadura Cabral ( e do pai, pronto, não quero dar uma imagem feminista) sabendo que nunca mais irá voltar a ver aquele abraço. Não é isso que está em causa. Nem o nó que sinto na garganta se poderá sequer comparar... Mas que é triste saber que aquele abraço não voltará a acontecer, isso é.

Resta a certeza agradável de saber que, pelo menos naquele caso, não foi preciso ser tarde demais para darem importância a certos valores, mais importantes do que qualquer ideologia política.



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