O que nos faz gostar das figuras públicas?

Uma continuação d' "A Fórmula de Deus", com o título "La Cle de Salomon" , o 7º romance da série Tomás Noronha, acaba de ser lançada em França, "em forma de agradecimento ao público Francês pelo sucesso obtido naquele país com os romances "La Formule de Dieu" e "L´Últime Segret du Christ". " ... foi com estas palavras que o autor, José Rodrigues dos Santos, deixou em aberto até quando os leitores portugueses, por quem sempre tem sido bastante acarinhado, vão ter que esperar para ler o mesmo romance, se é que alguma vez terão essa possibilidade.

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Não sei o que passa pela cabeça (neste caso quadrada) de um autor quando decide lançar um romance num país estrangeiro, sem antes o ter lançado no seu próprio país. Não fazia ideia que os leitores portugueses lhe merecessem tanta falta de consideração!


Escrevi este texto em dois foruns de que sou membro. A primeira parte está em modo notícia. A segunda já é uma consideração pessoal. Mas agora decidi dar uma opinião mais pessoal ainda, analisando melhor, visto tratar-se de uma atitude de uma figura pública que muito admiro e por quem, ao longo do tempo fui ganhando muito carinho e respeito... Mas de onde vem esse carinho e esse respeito?

A primeira reacção foi de revolta pura e dura. Porque têm os leitores franceses que ter a possibilidade de ler em primeira mão um romance de um escritor, cujo sucesso foi primeiramente atribuído pelo público de Portugal, o seu país? 

Claro que é tudo uma questão de marketing. Isso é óbvio. Em França, à excepção talvez de José Saramago, depois de ter sido prémio Nobel, nenhum autor português teve algum dia parte do sucesso que este escritor obteve com os dois romances, lá publicados em 2012 e em 2013, romances esses que  já tinham anteriormente sido publicados em Portugal.

A notícia caiu-me mal e fartei-me de praguejar. Achei, e continuo a achar, uma enorme falta de respeito para com o público português. Confesso que fiquei enraivecida.  Depois pus-me a analisar o que tinha provocado essa raiva.

O que nos faz, ao fim e ao cabo, admirar, e mesmo adorar, as figuras públicas? O SEU TRABALHO. Porque é isso que conhecemos delas e é, na verdade, isso que nos interessa. Se depois vamos reparando que a pessoa tem ideias semelhantes às nossas, que tem bons princípios, que gostamos da sua maneira de ser, tanto melhor. Acaba por haver uma identificação. Mas à partida, o que nos faz gostar e continuar a gostar do profissional é o seu trabalho. Ora, se somos privados dele, o encanto quebra-se... Diminui... Ou pelo menos tem uma ferida, que depois será sarada com o tempo... Ou não.

O autor acaba de se justificar no Facebook. Já tinha iniciado este post quando vi a notificação. É tudo uma questão de deveres editoriais. Foi decidido que o livro seria lançado em simultâneo em Portugal e em França... A questão é que em França o mês preferencial para a publicação dos seus livros é Abril e em Portugal é Outubro, o que faz com que na prática acabe por ser posto à venda SEIS MESES ANTES.  Até aí já todos tínhamos chegado, Zé! Mas que caiu mal, isso caiu!

Comentários

  1. A questão dos 'meses preferidos' tem a ver, não com a região mas sim com os interesses das editoras.
    As mesmas que determinam, com o consentimento dos escritores, onde se vai lançar o quê e como.
    Estão-se borrifando para a tal situação de um português apresentar um livro primeiro num país estrangeiro e só (talvez) depois o faça no seu.
    Pode ser que os portuguieses abram a pestana e deixem de comprar JRS.
    Eraq o que o jovem merecia.

    JRS anda numa de 'spin of' em 'spin of' até ao 'spin of' final :-)

    Nós, por cá, continuamos serenos, muito serenos.

    Abraço, São.

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    1. Acho que deixar de comprar também é um bocado demais, até porque seria uma atitude masoquista, penso eu, de certo modo... Posso ser suspeita, por sentir empatia com a pessoa em causa, mas penso que não, até porque manifestei em todo o que é sítio da net que fiquei ZANGADA. Mas, como sabe, já lhe disse também a ele, ele explicou e não é por esta atitude, mais uma vez com alguma infantilidade que deixaria de comprar um livro dele. E porquê? Principalmente porque gosto de ler os livros dele. Muito. Em 45 anos nunca houve escrita com que me identificasse mais. Ao não comprar um livro dele, por capricho, não estaria a fazer mal só a ele, mas principalmente a mim que não iria lê-lo! Porque é que nós compramos as coisas? É para ajudar o cigano? LOL... Digo isto, porque as ciganas que andam por aí a vender pensos rápidos e outras bugigangas dizem para nós compramos que é para ajudar... Não, nós compramos porque achamos é algo que nos vai ser útil. Ninguém compra um perfume só porque é o David Gandy que aparece no anúncio (e vi daí, não sei)... À partida nós compramos uma coisa de que gostamos, que achamos que nos vai dar prazer (neste caso de leitura), não para ajudar o pobre do autor a pagar a prestação da casa, coitado, que lhe faz tanta falta... Logo, ao deixarmos de comprar, estaremos, à partida a fazer mal a nós próprios, que nos iremos privar de algo de que gostamos :) ... O mal será mais para nós do que para o autor...

      Abraço :)

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    2. Caríssima, não é só o JRS que escreve.
      Há outras opções.
      Só naquela de mostrar um cartão amarelo a JRS.
      De resto, gostos não se discutem.
      Abraço

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    3. LOOL... Mas não acredito que alguma pessoa o leia só a ele! Aliás, nem ele nem nenhum escritor.... Então só liam um livro por ano, não? É óbvio toda a gente lê outros autores... Mas se sempre o leram a ele ou se ele é mesmo o preferido, seria estarmos a privar-nos de algo que nos faz sentir bem...

      A questão, ao fim e ao cabo, é mesmo editorial. Ele assinou contrato com as editoras, a partir do momento acabou-se! Em certo sentido, em termos estatísticos, a publicação vai parecer que foi simultânea. Ele este ano resolveu publicar "ao mesmo tempo" cá e lá... São lançamentos de 2014. Só que, como cada editora depois faz as coisas à sua maneira, isso deu azo a que lá o livro saísse 6 meses antes... Que é 2014 é, disso não há dúvidas...

      :)

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    4. Ah, mas agora lembrei-me... Uma vez ouvi uma senhora dizer que só lê Margarida Rebelo Pinto... De resto, não lê mais nada... Ok... Leia à vontade :)

      Abraço :)

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    5. Conhecerá JRS o termo ética?
      E bom senso?
      Quanto a quem apenas lê Margarida Rebelo Pinto, temos pena.
      God bless them.

      Abraço

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  2. "Mas à partida, o que nos faz gostar e continuar a gostar do profissional é o seu trabalho." É com certeza, mas à partida também, se eu souber que determinada figura pública que admiro, espancou a mulher, abandonou os filhos, matou o cão à fome, deixo automaticamente de gostar dessa pessoa, logo do seu trabalho. Para mim é impossível conseguir separar a pessoa da sua obra. Livros em casa manchados de sangue, de violência, de preconceito e por aí fora, não têm lugar. Sim, estou a exagerar só naquela de fazer passar a minha postura.

    Boa semana, São :)

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    1. LOOOL Maria... Agora fez-me rir... Acho que já temos falado disso... Pelo menos, falo disto muitas vezes. Obviamente que uma pessoa dessas, por muito bem que trabalhasse seria abominável... Mas o homem, que eu saiba não espancou a mulher, não abandonou as filhas nem matou cão nenhum.... Eheheheh... Foi uma estratégia de marketing mal pensada (a meu ver) por ele e pelas editoras.. Eu fiquei chateada... Está a ver, Maria, como bastou uma coisa destas para eu ficar zangada... O que faria se ele espancasse, abandonasse, matasse... LOOOL...

      Obviamente que eu concordo consigo. Mas num caso destes, se por um lado compreendo que a pessoa tem que pensar nos lucros e na sua promoção profissional a nível internacional(não é crime nenhum), saber que isso me privou do seu trabalho causa-me raiva. Repare: o livro sairá como todos os anos, em Outubro, mesmo que não tivesse saído em França, não sairia cá antes.... Mas saber que os franceses já podem lê-lo e eu não, causa-me mau estar... nervoso miudinho... Agora imagine se ele tivesse matado, abandonado, espancado, esfolado!

      Agora, veio uma senhora brasileira no Facebook defendê-lo, dizendo que o Paulo Coelho já tem lançado vários livros na Europa antes de os lançar no Brasil e que os brasileiros não ficam nada aborrecidos com isso, muito pelo contrário, ficam orgulhosos do sucesso do seu escritor.... Não me interessa! Não sou brasileira nem grande fã de Paulo Coelho (e ainda que fosse fã de Paulo Coelho, até ficaria contente, por ter os seus livros antes dos brasileiros...lol...)

      Já está a passar a raiva... O que custa mais agora é a impaciência.... Saber que vou ter que esperar quase 6 meses, enquanto os portugueses já o têm

      Obrigada pelo comentário :)

      Um abraço :)

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    2. Enquanto os FRANCESES já o têm, queria eu escrever :)

      :)

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