Quando as coisas não aconteceram, nem se pensa que podiam ( efectivamente) ter acontecido...

Faz hoje 15 anos que uma tragédia deixava o país em estado de profundo choque. A ponte de Entre-os-Rios caiu. 59 pessoas perderam a vida. 36 corpos nunca foram encontrados. A dor e o luto eram evidentes nos rostos das pessoas. Ninguém ficou indiferente.

Além de ninguém ter ficado indiferente, também ninguém encolheu os ombros e disse simplesmente que tinha sido o azar, o destino. Toda a gente se agitou à procura de culpados . Já nada havia a fazer por aquelas pessoas, mas havia que punir os culpados. Afinal, um relatório datado de 1986 alertava para uma fragilidade considerável no quarto pilar da ponte e nada tinha sido feito.

Tudo isto gerou uma onda de indignação que levou à demissão  de várias pessoas com cargos de responsabilidade, incluindo do então Ministro do Equipamento Social, Jorge Coelho. Isto sem contar com os insultos de que foram vítimas Jorge Sampaio e António Guterres quando visitaram o local.

O julgamento dos arguidos só começou cinco anos depois e ninguém foi condenado. Isto causou novamente indignação nas pessoas. Afinal, tinham-se perdido 59 vidas e ninguém era condenado.

Compreende-se a indignação das pessoas. Mas, pergunto eu, é preciso morrerem 59 pessoas para haver arguidos? Para haver demissões de ministros? Para haver tanta indignação?

Quantas pontes já cairam depois disso? Ainda há muito pouco tempo caiu uma perto de Gondomar. Houve alguma indignação ? Alguém se agitou? Não dei notícia... Como não ia a passar lá ninguem no momento em que ela caiu, não é motivo para indignação, muito menos para se apontar responsabilidades , ou demitir pessoas. Afinal, ninguém morreu, ninguém se magoou... Mas graças a quem? Ao acaso! Porque simplesmente por mero acaso não ia lá a passar ninguém.

Ora, tendo em conta estes factos, temos mesmo que reconhecer que aquelas pessoas tiveram azar. Que embora tenha sido um azar menor , também o ministro Jorge Coelho e as outras pessoas que foram demitidas tiveram azar... Afinal, se tivessem responsabilidade ligada a uma ponte que caísse quando não fosse lá a passar ninguém não teriam qualquer tipo de chatice...

Usando um "eu" o mais impessoal possível , posso dizer que, às tantas, se eu fosse ministro e me aparecesse um relatório à frente a alertar para o perigo de determinada ponte ruir, era muito capaz de encolher os ombros e dizer "Deixa lá, pode ser que não vá ninguém a passar quando ela cair...."

Assim vamos andando, no deixandarismo já dominante...


Comentários

  1. São,
    O pior deste lindo país é mesmo o deixa andar, o faz-se amanhã e o hoje não posso. E isso é inaceitável. Sabe, quando ocorreu essa tragédia, eu vinha num autocarro com amigos depois de uma semana de férias em Paris. Pelo caminho soubemos do sucedido e passámos, obviamente, por inúmeras pontes. Imagine o que senti nesse momento. Enfim...

    Beijinhos
    Deixo-lhe o convite de conhecer o meu blogue.

    Bom fim-de-semana :)

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    Respostas
    1. As pessoas só se lembram da possibilidade do mal acontecer depois de ter acontecido... Não sei se é só em Portugal, mas eu falo do país onde vivo...

      Estive lá há dias :).. Estava um vídeo muito engraçado de um par a dançar em Paris... Mas não sabia o que havia dw dizer... Infelizmente não conheço a cidade :(

      Depois volto :)

      Um abraço :)

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