Todos os cidadãos são iguais... Mas há uns mais iguais do que outros...

Cheguei há pouco de uma reunião do Instituto de Emprego e Formação Profissional. Daquelas reuniões que não adiantam nem atrasam. Onde são dadas informações que poderiam ser dadas por carta, da mesma forma que a pessoa foi convocada (logo, não havia mais despesas de Correios). Mas adiante... Enquanto se espera, ouvem-se sempre conversas, queixas...

E então estava um senhor, a lamentar-se, quase ofendido, dizendo que era advogado, desempregado a receber subsídio, e que tinha recebido duas propostas, uma para trabalhar numa Bomba de Gasolina e outra para um restaurante. Ora, o senhor, dizia, de sua justiça, que as tinha recusado, obviamente, pois se era advogado, não iria trabalhar para uma Bomba de Gasolina ou para um restaurante.

Bem, eu compreendo a indignação do senhor. Mas acontece que o senhor está a receber subsídio de desemprego. Que eu saiba, não se pode recusar qualquer proposta nessa situação. Ou melhor, pode-se, porque não existe escravatura, mas nesse caso, a pessoa tem que prescindir do subsídio. É-lhe cortado.

Porque é que isto é diferente por o senhor ser advogado? Por ser licenciado? 

Até se compreende, mas nesse caso porquê só um licenciado pode recusar um trabalho que não está de acordo com as suas qualificações? Não poderia, por essa ordem de ideias, qualquer pessoa que tivesse uma carteira profissional recusar um emprego que não estivesse de acordo com as suas qualificações? Porque terá um padeiro (com carteira profissional) que aceitar um emprego numa bomba de gasolina? Porque terá um pedreiro que aceitar um emprego num restaurante? 

Desculpem-me, mas acho que as leis deveriam ser iguais para todos!

Comentários

  1. Este texto é complicado de comentar...

    À partida o dinheiro gasto para alguém se licenciar em Direito, isto quando se sabe quanto custa um simples livro, é absurdo. O investimento que os pais fazem, ou por vezes o próprio faz tendo que trabalhar à noite para conseguir estudar é qualquer coisa. Portanto consigo colocar-me na situação do senhor e perceber a sua indignação. Não que não seja digno trabalhar numa bomba de gasolina ou num restaurante, só que não foi para isso que a pessoa estudou tanto. Não foi assim que imaginou o seu futuro. Porque se fosse assim bastava-lhe ter ido logo trabalhar para a bomba de gasolina ou para o restaurante. Para quê perder tempo a estudar, a gastar dinheiro aos pais, que por vezes fazem enormes sacrifícios para dar um futuro melhor aos filhos!? Daí eu ter dito logo no inicio que este texto era complicado de comentar...

    Lá está, um pedreiro aceitar um emprego num restaurante é bem capaz de ser melhor para ele, como que sobe de categoria professional. Não sei. Pode ganhar menos, mas fica a ganhar em termos de não ser um trabalho que exija um esforço físico muito grande. Esforço, que sabemos, os pedreiros são sujeitos no seu dia-a-dia.

    Isto não está fácil para ninguém. E é extremamente difícil ver gente com grandes capacidades a ter que servir à mesa (lá está, não é uma questão de ser pouco digno servir à mesa, nada disso) quando existem outros que nada fizeram, não quiseram sequer estudar, ou esforçar-se para aprender mais um pouco, em pé de igualdade.

    A igualdade deve existir sim senhores, mas por vezes é injusta.

    Uma boa semana, São.

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    Respostas
    1. Olá, Maria :)
      Pois a questão é que o tema é complicado. Não é realmente fácil, porque é sempre um pau de dois bicos. Compreendo perfeitamente a ideia e percebo o senhor. Mas também é verdade que muitas vezes as pessoas entram para cursos de que gostam muito, ou de que os pais gostam muito, mesmo sabendo que o mercado de trabalho está lotado nessa área. Já ouvi muita gente dizer "Ah, agora são cinco anos de curso, e depois, quando chegar a altura logo se verá..." Pois... e o que se vê muitas vezes não é muito bom...

      Se calhar, um pedreiro, talvez não tanto como um advogado, mas também lutou para ser pedreiro... Senão seria servente a vida inteira... E por acaso ai está um grande equívoco: muitas vezes, o pedreiro nem faz assim um esforço tão grande... O maior esforço é o do servente, que ganha menos. Eu recordo-me de um amigo meu lá da serra que quando andou a tirar a carta de pedreiro (não sei onde se tira, deve ser com pedreiros credenciados para isso.. Só sei que ele era servente e depois passou a ser pedreiro) se levantava todos os dias Às 5.30 da manhã para esperar uma carrinha que o levava à aldeia. Ora, também é um esforço.

      Um empregado de mesa também tem a sua qualificação. Hoje em dia já se tiram cursos no IEFP e mesmo na escola, nas variante técnico-profissionais, ou lá como se chamam actualmente... E antigamente era com a experiência, muitas vezes começavam a trabalhar muito jovens na profissão... O marido do meu padrasto é empregado de mesa, tem 54 anos e sempre teve aquela profissão. Ganha bem, generosamente bem mesmo, porque para além do ordenado base, tem as comissões, ganha consoante os almoços e jantares que servir. Ora, ele ganha bem, porque adquiriu muita prática e experiência ao longo dos anos. Se fosse para lá um ex-pedreiro, ou em ex-advogado ou qualquer outra pessoa sem experiência e o pusessem a trabalhar À comissão, nem 20% do que ele ganha, a pessoa ganharia... Ele põe (sem exagero) 10 mesas enquanto eu poria uma... lol... A pôr talheres nem se lhe vêem os dedos... lol... Ora, quem diz agora àquela pessoa (por exemplo) que vai deixar de trabalhar naquela profissão? Mas e se tivesse que ser?

      Enfim, é uma questão mesmo complicada :)

      Uma boa noite e uma boa semana para si :)

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    2. LOL... O que dá não reler comentários antes de os enviar... Onde se lê "o marido do meu padrasto", lei-se "o padrasto do meu marido"... Ai, vou mas é dormir... Há bocado fui tirar um café e não pus pastilha nenhuma dentro da máquina! Quando comecei a ver que estava uma água acastanhada na chávena é que pensei "Ó diabo..."

      :)

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