O verdadeiro problema dessa coisa da idade

Passaram mais de dois meses desde que completei 50 anos. Não considero que esteja a ser ingrata quando digo que as únicas coisas que tenho a agradecer à minha existência são as saúde , que até ao momento tenho tido, e ter tido um filho fantástico, que infelizmente a boa sociedade a que pertenço não permitiu que permanecesse comigo além de seis anos. Algo que nunca perdoarei, até porque é imperdoável. 

Perguntar-me-ão se não acho que essas duas coisas são motivo de satisfação, motivo para me sentir grata e tudo isso.Obviamente que são motivo de satisfação. Obviamente que me sentiria grata se fosse uma pessoa religiosa e assim continuo grata ao acaso por mais estranho que possa parecer esse conceito... Mas teria ficado muito triste se há 30 anos me tivessem dito que a minha chegada aos 50 seria da forma que foi: sozinha numa casa fria, a comer salsichas com um resto de pão, sem dinheiro que fosse para um pastel de nata... Para um ovo que fosse. Nas minhas lembranças foi impossível não sentir uma certa revolta ao recordar as festas que dava na minha casa na adolescência..Os meus 17.. 18..19 anos... A casa cheia de amigos..Muita comida (e bebida .D)...Música... Alegria... A ideia que me batia era esta: Eu não merecia isto... Mas já passou.

Muito se diz sobre o avançar da idade do ser humano. Recentemente , o escritor francês Yann Moix veio a público fazer algumas declarações que chocaram algumas mulheres da minha idade. Deixem-me confessar que também não gostei de as ler. Acho que foram usadas palavras demasiados cruas, com deliberada intenção de ferir susceptibilidades ou lá que intenção foi. Que houve intenção, houve. Repare-se que o senhor não se limitou a dizer que preferia mulheres mais novas. Isso muitos dizem. Ouve-se muito até. O senhor usou palavras intencionalmente escolhidas. Para quê? Não importa agora..Se a intenção era ferir, ser falado, ser mais falado ou o que seja. Não é isso que importa. Importa que considero que realmente foram incómodas as palavras usadas, que compreendo quem se sentiu atingida e que eu própria não gostei do que li.. 

Foi só uma consideração sobre esse assunto tão delicado:a idade. Ouve-se muito, em todo o lado, esse lugar comum que é o "espírito jovem", que "o que interessa é ter espírito jovem"..Sempre encarei essa expressão ou ideia com algum tom de gozo... O que é ter espírito jovem? É não sofrer de Alzeihmer? Acho que apenas uma daquelas coisas que se diz quando não se tem mais nada a dizer . Muito sinceramente não sei o que é isso de ter espírito jovem. Eu acho que o meu espírito tem sido sempre o mesmo desde sempre. Se é jovem ou não, não faço ideia. Acho que está a ficar  um bocadinho velho, tendo em conta que me esqueço das coisas e as minhas distracções (que , sim, sempre existiram) parecem ter aumentado com o passar do tempo.

Não vou negar que me entristece um bocadinho olhar-me ao espelho e ver a minha pele envelhecida. Confesso que me entristece ver que o meu corpo já não é o mesmo de há 25 anos. Mas , sem qualquer hipocrisia, garanto que essa preocupação é muito secundária em relação ao que realmente me entristece verdadeiramente: 

O facto de saber que já não viverei tanto tempo como o que já vivi , muito menos com a mesma qualidade de vida que tive até aqui.

Isso sim, para mim é algo que me deixa triste. Isso sim, para mim é o verdadeiro terror. Isso sim, realmente me faz sentir triste. Se não chegaram antes, por esta idade começam a aparecer as artroses, os diabetes, os problemas de tensão, o colesterol e... STOP, já chega, que já me fiz entender.  O organismo , e a própria mente começam a ficar cansados... No fundo é a teoria que se explica na expressão popular "Quem já andou já não tem para andar" 

Acredito que seja mais fácil para quem teve sempre uma vida preenchida e feliz, que o realizou a todos os níveis e chega a esta idade com uma certa tranquilidade e a sensação de que já pode abrandar um pouco e não precisa de correr. Mas ainda assim, acho que deve ser sempre pesar um bocadinho. Saber que já se andou e já não se tem tanto para andar é realmente um facto que é impossível não entristecer.

Repito: para mim é importante a aparência. Sempre fui uma mulher vaidosa e como tal dou importância à imagem exterior. Mas é um aspecto muito, mas mesmo muito secundário em relação a que realmente me deixa triste: saber que não terei para andar tanto como o que já andei, muito menos com a mesma pedalada...

Já agora, se alguém ler isto: sabe explicar-me o que é isso do espírito jovem? 


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