Pessoas que se encostam a subsídios , invasões da privacidade e algumas farpas

Todos os dias encontramos, seja nas redes sociais, seja nos balneários, no local de trabalho ou no supermercado pessoas que criticam os chamados parasitas sociais que se encostam a subsídios, nomeadamente ao Rendimento Social de Inserção , ainda chamado de "Rendimento Mínimo" de forma ignorante típica de quem não quer evoluir porque se encostou a uma profissão na qual não tem formação há décadas nem procura actualizar-se, porque, ao fim e ao cabo, estudar para quê? e ainda humilha quem acha que os estudos e a formação contínua são úteis.

Como em tudo vida, as pessoas são diferentes e vêem e vivem a sua existência de forma diferente. Haverá certamente quem se encoste, até porque se pode encostar, porque tendo em conta a família numerosa que tem, acaba por receber o mesmo que receberia se estivesse a trabalhar e não tem que pôr os (4 ou 5, para valer a pena) filhos na Cresce ou Jardim de Infância, acabando por poupara muito dinheiro (diga-se de passagem que estas pessoas até deviam ser louvadas por aqueles que as criticam que em regra são os mesmos que abominam as pessoas homossexuais , dando como uma das razões o factos de não puderem, à partida, ter filhos, para a continuação da espécie. Afinal, estas pessoas estão a deixar um bom contributo para que a espécie não acabe tão cedo). 

Mas deixemos as ironias, até porque não têm sido muito bem aceites nos últimos tempos e foquemo-nos na questão essencial que são as pessoas que se encostam ao tal subsídio. Posso dizer que que na minha modesta e irrelevante opinião , recorrer ao Rendimento Social de Inserção é das situações mais humilhantes da nossa sociedade. É como pedir esmola ou pior ainda, porque as pessoas a quem pedimos esmola não vêm vasculhar a nossa vida pessoal. Quem recorre ao Rendimento Social de Inserção tem que mostrar o extracto bancário dos últimos três meses (não, não é o saldo do final dos últimos três meses, é o extracto com todos os movimentos, o que significa que se a pessoa tiver feito compras numa sex shop nos últimos três meses e tiver pago com o cartão multibanco, os técnicos de serviço social ficarão a saber) . Quem recorre ao Rendimento Social de Inserção é ainda obrigado a mostrar a casa onde vive às técnicas de serviço social, que fazem as suas visitas percorrendo todas as divisões da casa (ou seja, ficarão a saber se a pessoa tem o vibrador encima da mesa de cabeceira ou ao lado da almofada) . Dizem (foi a explicação que me deram quando tive que recorrer a tal subsídio) que essas visitas são feitas com a finalidade de ver se a pessoa tem sinais de riqueza em casa... Ora bem, mais uma vez na minha modesta e irrelevante opinião, quer me parecer que alguém que andasse a pé, nem um carrinho velhinho tivesse para se deslocar e andasse na rua com roupas para lá de puídas, quase num maltrapilho e tivesse dentro de casa grandes evidências de riqueza , provavelmente seria uma pessoa perturbada e então o melhor seria nunca dar trabalho a essa pessoa, porque isso seriam evidências de um comportamento anormal, provavelmente de alguma doença psiquiátrica grave...

Mais uma vez dando a minha modesta e irrelevante opinião haveria , se não quisessem humilhar as pessoas, métodos menos invasivos e provavelmente muito mais eficazes para determinar se a pessoa precisava realmente do Rendimento Social de Inserção. Toleremos o saldo bancário do final dos últimos três meses (não o extracto, só o saldo), uma declaração das finanças a declarar se a pessoa possui ou não património e o seu valor, e o IRS do ano anterior. Caso a pessoa não tenha feito terá sido provavelmente porque os seus rendimentos não foram suficientes para que isso fosse obrigatório. E seria o suficiente. Se mais tarde houvesse alguma denúncia ou alguma suspeita de que a pessoa tinha forjado os documentos, nessa altura poderia haver uma investigação mais profunda. No entanto, a chamada visita a casa das pessoas continuaria a parecer-me irrelevante. Se alguém quiser esconder riqueza (andando a pé na rua feito um maltrapilho) não a vai ter em casa à vista das técnicas que lá vão , usando a palavra certa, bisbilhotar. E se o fizesse não seria , por certo, uma pessoa normal.

Discutia esta madrugada com um amigo que me dizia que se a lei diz assim, é assim que tem que ser.  Mas dizer que não é humilhante não posso dizer. Ok, já não me vou alongar mais, que seja a lei , já que temos que achar que está bem tudo o que está na lei... Mas que digam que as pessoas se encostam e gostam de viver do RSI quando se trata de uma situação tão humilhante parece-me descabido. Alguém no seu juízo perfeito gostará de ter a sua vida vasculhada, a sua privacidade invadida , numa altura em que se fala tanto do direito à privacidade , da exposição, da recolha e divulgação de dados pessoais pela net? Sinceramente, ponho as minhas dúvidas...Ou será certezas? 

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