Quem são os portugueses emigrantes em França que apoiam Marine Le Penn?

Vejo por aí muitas pessoas indignadas com o facto de haver emigrantes portugueses em França que afirmam apoiar Marine Le Penn e ter votado e pretender voltar a votar na mesma. Sinceramente, não percebo o motivo de tanta indignação e surpresa. Não percebo o choque. Diria mesmo que acho o mais natural.

Convenhamos que há que distinguir duas coisas que muitas vezes as pessoas confundem: uma coisa é ficarmos tristes com uma realidade, notícia, acontecimento. Outra, totalmente diferente, é isso nos surpreender ou mesmo chocar, no sentido de não estarmos à espera. 

Se fico triste por ouvir portugueses e descendentes dizer que apoiam Marine Le Penn? Claro que sim. Mas para mim nada disso é incoerente com o padrão do emigrante português em França. Nada mesmo.

Peço desculpa se ferir susceptibilidades e ressalvo já que há alguns que fogem ao padrão. E tanto assim é que não são todos os emigrantes portugueses e descendentes que a apoiam. Felizmente. Mas sejamos honestos: como é o típico português emigrante em França? Como é a maneira de ser daquele português que vimos emigrar para França nos anos 70, 80, 90? O que é mais do que aquele simplório que voltava todos os anos em Agosto, vestindo camisas floreadas abertas até ao meio do peito,  se fazia anunciar com discos da Linda de Suza e do Dino Meira, intercalados com os do Joe Dassin , tocados em altos berros, e falava propositadamente uma mistura das duas línguas para mostrar que já era muito superior aos que cá tinham ficado? O que era mais do que aquele tipo que evoluía bastante em termos monetários mas não evoluía em mais aspecto nenhum porque lá levava uma vida fechada durante 11 meses?

Tantas piadas que se contam dos denominados "avecs"... Emigravam apenas para juntar dinheiro. Começavam por trabalhar no campo, normalmente nas vindimas e depois estagnavam , eles em serventes de pedreiro e elas em empregadas de limpeza. Uma vida de casa-trabalho-casa, sem lugar para mais nada. Dali não passavam,  não ser para se vir menosprezar quem cá estava quando vinham de férias. Tinham dinheiro. Viviam num país civilizé , falavam Francês... E não suportavam os "arábos"... Não se lembravam (se calhar não sabiam sequer) que esses "arábos" eram oriundos de ex-colónias francesas e , se calhar, se fôssemos apurar bem as coisas, tinham mais direito a lá estar do que eles... Mas a ignorância a isso obrigava. 

Como pode então chocar que estas pessoas , e consequentemente os filhos, apoiem tal criatura? O incoerente seria se não apoiassem.. Se entristece? Claro que sim... Mas do tipo de pessoas não seria de esperar outra coisa. 

Obviamente que sempre houve os que fugiram ao padrão. Sempre houve os que evoluíram. Sempre houve os que foram assim ao início, mas foram mudando.Tanto que nem todos a apoiam. Mas falo do típico, do mais comum. De 80 a 90% dos que conheci e conheço .