O sentimento de impotência.... E vidas que valem a pena

É um bocado difícil falar sobre este sentimento sem expor um pouco da minha vida pessoal. Mas quem me conhece sabe que me auto-destrui com um casamento que estava, à partida, condenado ao fracasso e que só com um grande esforço meu (que me destruía mais a cada dia que passava) durou tanto tempo. Tive de deixar tudo e sair com a roupa que tinha no corpo e a metade da alma que me restava.  É com ajuda do Estado que tenho estado a recomeçar. Agradeço. E muito. Mas confesso que estou farta de viver assim. Não foi nada disto que sonhei para a minha vida.  Estou completamente farta de uma vida de submissão, em que dependo de ajudas, sem ser, na verdade dona do meu próprio nariz. O sentimento de inutilidade é o pior dos martírios...

Mas adiante, que já me alonguei demais em auto-comiseração barata.  Esse sentimento de inutilidade agudizou-se nas últimas semanas quando vi o meu país a arder, com um dos principais focos na zona onde vivo. Vi dor. Vi angústia. Vi medo. Vi revolta. Vi preocupação estampada nos rostos das pessoas, enquanto eu estava sentada no meu sofá a olhar para a televisão. Vi cansaço. Vi igualmente preocupação. Vi exaustão. Mas também vi força, também vi coragem e, porque não dizer, também vi algum orgulho nos rostos dos bombeiros e mesmo populares que lutaram arduamente contra o fogo. Tristeza por o fogo existir, mas orgulho por, já que ele existia, estar a combatê-lo.

Vi vidas que valem a pena, enquanto eu olhava passivamente no meu sofá.

Disse várias vezes que se o meu filho não estivesse cá de férias teria ido oferecer a minha ajuda no combate ao fogo.  Esperei muito por estas férias com o meu filho. Não fui capaz de deixar o meu filho em casa por um ou dois dias para ajudar a lutar por um mundo melhor para ele.  Sabemos o que significa cada árvore queimada.

Mas o que teria acontecido se tivesse ido oferecer a minha ajuda?  O que saberei eu fazer em situações como aquela? Deve ser frustrante ouvir "volte para casa, que você aqui não pode ajudar nada"... Mas se for a verdade porque não ouvi-la?

Olho para os rostos dos bombeiros e vejo o orgulho de missão cumprida. Vidas que valem a pena.

Há dois dias atrás vi também uma reportagem sobre crianças que morrem em Angola, em condições miseráveis, no que respeita a saúde e higiene... No reino de Isabel dos Santos... Mais uma vez o sentimento de inutilidade e impotência tomou conta de mim. Querer fazer alguma coisa e não poder é dos martírios mais dolorosos que podem existir...

Deixo aqui a minha homenagem e o meu obrigado a todos os bombeiros, a todos os voluntários de ONGs,  a todas as pessoas que fazem alguma coisa para mudar as coisas más que há por esse mundo fora. A todas as vidas que valem a pena.

Comentários

  1. Olá São,

    Li o seu texto com a atenção e o respeito que o mesmo exige e, na verdade, não consigo encontrar as palavras certas para escrever o que quer que seja que não soe a oco. Só me resta escrever que espero que a São encontre o mais breve possível um caminho que a deixe, se não feliz, pelo menos mais tranquila e menos zangada com a vida. A coisa dá-se, tenho a certeza.

    Beijinho e força, não vale baixar os braços :)

    PS: Os bombeiros mereciam que o nosso país os olhasse com olhos de ver. Não falo da população, falo de outros seres que se consideram muita coisa e vai na volta não serão grande coisa. E é isto.

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