As evidências do absurdo

Quem não ouviu ainda falar do caso de um homem que, porque algo ou alguém o condicionou nesse sentido, está completamente convencido de que a mulher o trai e, então, tudo o que vê na mulher e no seu comportamento lhe parece claramente um sinal dessa suposta traição? Mesmo que todas as reais evidências apontem para o contrário, mesmo que a mulher passe com ele 24 horas por dia, 7 dias por semana até o facto da mulher ter calçado umas botas castanhas a uma Sexta-Feira lhe parece um sinal claro de que está a ser traído por ela. Quem não ouviu ainda falar, também, daquela pessoa que, numa conversa do dia-a-dia, ouve falar de uma determinada doença e, depois, chega a casa, faz uma pesquisa no Google e, de repente, tem todos os sintomas dessa doença. Na verdade, sabe que é impossível ter ficado com todos os sintomas de repente, ainda mais, tendo em conta que antes de fazer a pesquisa não tinha nenhum. Na verdade, também o homem que pensa que a mulher o trai, se refletir de forma racional, sabe que é impossível que a mulher o traia. Isto acontece porquê? Porque o nosso inconsciente é facilmente manipulável e condicionável, principalmente quando se trata de algo negativo... Mas também pode acontecer quando algo nos parece positivo, porque alguém nos condicionou nesse sentido, provavelmente porque algum proveito esperava tirar desse condicionamento. É dessa natureza manipulável que se aproveitam políticos, publicitários, vendedores, e pessoas mal intencionadas. Há que ter cuidado, portanto, na forma como analisamos os factos e as sensações... Porque depois do nosso pensamento já estar direcionado num sentido, pouco ou nada haverá a fazer, pois até o mais absurdo (absurdo esse que normalmente só interiorizamos mais tarde) nos parece óbvio e coerente... Mesmo que no fundo, num outro compartimento do raciocínio, saibamos que se trata obviamente de um absurdo.