Os escombros de uma vida...

Ontem fui à minha antiga casa ver se ainda restavam lá algumas coisas para trazer que pudesse trazer no comboio. A casa tem sido assaltada e vandalizada e está uma lástima, mas ainda não tinha reparado a certos pormenores que ali restam de uma passado de vida. Agora estão mortos, mas permanecem lá. No chão do meu quarto, as roupas que vesti um dia estão cobertas de pó, terra das paredes e teias de aranha... Tanta roupa que eu lembro tão bem de comprar e de vestir... Era vaidosa, eu. O meu fato de banho e a touca de natação continuam pendurados no cabide, igualmente cheios de pó e teias... Na cozinha as loiças que lá ficaram estão cheias de terra... caiu muita terra das paredes quando os assaltantes retiraram os fios de electricidade (que ainda eram daquelas antigos, pregados às paredes)... Entrar no quarto do meu filhinho foi muito duro... Ainda que depois dele ter sido levado, tenha sido a minha mãe que tenha passado a ocupar o quarto, ainda lá restam muitas coisas que documentam que ele ali VIVEU... Abri uma gaveta da escrivaninha e estava cheia de lápis de cor, canetas de feltro, borrachas... A cama dele está fria e também ela coberta de pó e terra...

Um dia houve vida naquela casa. Uma família foi feliz ali... Uma família que foi desfeita... Uma vida que foi destruida de um momento para o outro... Não há perdão nem remédio para tudo o que nos aconteceu... O prejuízo material que ali está é incalculável... Abandonamos tudo para nos mudarmos para uma casa onde o João Pedro tivesse condições de crescer... Afinal, nunca pensaram em devolver-nos o nosso tesouro... Nesse caso, para que arranjamos esta casa? Para nós, a outra chegava... e sobrava... Foi por ele que viemos para cá... Somos olhados naquela rua com desprezo... Agora é que aquela casa já não está em condições mínimas de habitabilidade... Os assaltos sucessivos destruiram o que restava... Não há fios de electricidade... Não há tomadas, nem torneiras... Levaram tudo e o resto destruiram... Mas o pior de tudo é estarem ali os destroços de uma VIDA... Há ali coisas que, muito timidamente, por debaixo das camadas de poeira, são testemunho da vida que houve naquela casa... Necessaires de maquilhagem... Eu era uma mulher vaidosa na altura :) ... As roupas que eu usava... Espalhadas pelo chão como trapos... Todas sujas... Revoltaram tudo à procura de coisas que lhes interessassem...

Encontrei fotos... Fotos em que eu sorria... Fotos que transmitiam vida... Restos de uma vida que se perdeu e que nunca mais vai ser encontrada...

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